Marion Nestle, professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York, e professora visitante no curso de Ciências Nutricionais da Universidade de Cornell. Uma Verdade Indigesta: Como a Indústria Manipula a Ciência do que Comemos. Editora Elefante, 1ª edição, 2019. Capítulo 1: "Uma história para ter cautela"
Além dos laços financeiros diretos, as farmacêuticas têm outras maneiras de influenciar as decisões. Uma delas é pagar pela formação de grupos de defesa de pacientes para pressionar pela aprovação de medicamentos. Nesse sentido, um banco de dados estabelecido pela Kaiser Health News descobriu que, em 2015, catorze empresas farmacêuticas doaram coletivamente 116 milhões de dólares para 594 desses grupos.49 [...].
Meu exemplo favorito é a liberação pela FDA, em 2015, da flibanserina — o “Viagra feminino” —, comercializada como tratamento de “transtorno do desejo sexual hipoativo generalizado adquirido em mulheres na pré-menopausa”, que os críticos acreditam ser uma doença. Com base nos benefícios mínimos do medicamento e nos riscos bem documentados, os comitês da FDA rejeitaram o produto duas vezes. Na terceira, porém, o fabricante, Sprout Pharmaceuticals, organizou um grupo de fachada chamado Even the Score e o posicionou como organização feminista em defesa do direito de as mulheres tomarem aquele medicamento. O comitê consultivo, então, votou pela aprovação baseado no argumento supostamente independente do grupo. Outro exemplo dessa captura corporativa é que, apesar de mencionar os perigos do medicamento, exigir uma etiqueta de advertência na caixa do produto e três estudos adicionais, a FDA aceitou a decisão do comitê. O The Washington Post atribuiu a decisão à “campanha inteligente e agressiva de relações públicas da Sprout” e a classificou como uma má notícia “para a aprovação racional de medicamentos”.51
Referências
49 ROSE, S. L.; HIGHLAND, J.; KARAFA, M. T. et al. Patient advocacy organizations, industry funding, and conflicts of interest. "JAMA Intern Med.", 2017, v. 177, n. 3, pp. 344-50; KOPP, E.; LUPKIN, S.; LUCAS, E. Patient advocacy groups take in millions from drugmakers. Is there a payback? "Kaiser Health News", 6 abr. 2018.
51 SPENCER, P. H.; COHEN, I. G.; ADASHI, E. Y; KESSELHEIM, A. S. Influence, integrity, and the FDA: An ethical framework. "Science", 2017, v. 357, pp. 876-7; MOYNIHAN, R. Evening the score on sex drugs: Feminist movement or marketing masquerade? "BMJ", 2014, v. 349, g6246; SCHULTE, B.; DENNIS, B. FDA approves controversial drug for women with low sex drives "The Washington Post", 18 ago. 2015.
Hanna Oliveira. Saúde. Sustentabilidade Emocional: a sustentabilidade está chegando a uma nova etapa, a emocional, que coloca a saúde mental dos trabalhadores no centro da estratégia das empresas. Saiba como preparar sua companhia para esse cenário. Você RH nº 75, de agosto/setembro de 2021.
Mais do que um crachá
O psiquiatra e psicólogo suíço Carl Jung já dizia que a construção do nosso ser não está restrita a somente um aspecto da individualidade, mas a várias facetas que se conectam para formar quem realmente somos. É por isso que colocar todo o foco em apenas um dos lados daquilo que estabelece nossa vida — como o trabalho — pode ser altamente perigoso para a saúde física e mental. Esse foi o erro de Sofia Esteves e o que a levou a ter um episódio tão grave de burnout. No trabalho, fui pela primeira vez reconhecida como ser humano, e isso foi determinante para que eu colocasse muito do meu prazer e realização ali, explica Sofia.
Assim como a fundadora da Cia de Talentos, muitos profissionais apaixonados pelo que fazem [...] não conseguem estabelecer limites e acabam ultrapassando a barreira do excesso de trabalho. Esse comportamento, que durante muito tempo foi estimulado e até premiado pelas companhias, criou [...] pessoas que adoecem e que deixam de colocar esforços em outras áreas da vida. O problema é que uma hora o organismo grita — e bem alto. O nosso corpo não foi feito para ficar muito tempo em produção, diz a neuropsicóloga Tamara. [...] O esgotamento mental ocorre quando existe um volume muito grande de trabalho sem uma válvula de escape e o corpo começa a ter sintomas de estafa. [...] Para que isso não aconteça, é necessário encontrar limites. Você pode vestir a camisa do seu trabalho, desde que vista também o seu pijama e uma roupa para fazer atividade física. Ou seja, que você se inclua em sua agenda, diz a jornalista e escritora [do livro "Dá um tempo: como encontrar limites num mundo sem limites"] Izabela.
O papel das companhias que querem ser humanas e socialmente responsáveis é mostrar aos empregados que deve, sim, existir vida além do trabalho. E que cada funcionário é uma pessoa complexa, com necessidades, emoções, expectativas e vulnerabilidades. Se a empresa não olhar para isso, a conta não vai fechar. Não há RH que consiga trabalhar com um grupo de pessoas adoecidas e que não encontram propósito, diz Raquel, [líder de saúde populacional e corporativa] do [Hospital Israelita Albert] Einstein. Essa conta precisa fechar com urgência — e com equilíbrio mental.
Óbvio é que, na média da população, pessoas mais novas têm menos juízo do quê as da faixa etária seguinte. Mas, enquanto abundam "denúncias" em terceira pessoa, mais difícil é encontrar "confissões" em primeira pessoa acessíveis livremente por todos, como a seguinte:
anônima, no blog Diário de uma Divorciada. Post Testemunhos: VIII, de 08/03/2008.
Casei-me no dia em que fiz 19 anos com a certeza que a partir daquele dia a minha vida seria sempre um mar de rosas. Não podia estar mais enganada... No fundo, talvez a culpa seja minha, primeiro por nunca ter estado verdadeiramente apaixonada e segundo por pensar que através do casamento resolveria a questão da minha independência para não ter que dar satisfações à minha mãe de onde ia, do que fazia, com quem estava, etc... [...] Como ele [(o marido)] nunca mais tratava de resolver as coisas e eu queria sair da casa dos meus sogros e ter o meu cantinho, resolvi engravidar, pensando eu, nessa altura, que na minha casinha e dedicada ao meu filhote seria feliz e tudo o resto não me ia importar. Claro que não resultou... Amo o meu filhote acima de mim mesmo, mas é ilusão da nossa parte pensar que uma coisa tapa a outra. Nem pensar...
⁂
O que é uma mulher (demasiado) jovem?
mulher jovem = a que não é adulta ainda (mesmo se legalmente considerada como tal);
adulta = a que tem independência em relação aos pais/responsáveis;
∴ Exemplos óbvios de não-adultas:
as adolescentes;
as universitárias;
as que nunca trabalharam;
as que ainda moram na casa dos pais.
Pergunta-se: que outro indicador deve ser acrescentado à minha lista de exemplos óbvios?
⁂
Em relação aos dois primeiros itens, convém citar:
Emerging science on brain development suggests that most people don't reach full maturity until the age of 25. Critical parts of the brain that perform decision-making are not fully developed until around that age. For example, the prefrontal cortex, which inhibits impulses and helps plan and organize behavior to reach a goal, is not yet fully developed at age 18. The reward system of the brain also gradually reaches a stable level at around age 25.